Ser mais competitivo sem baixar a qualidade: este é o desafio

16.08.2017

Períodos de crise econômica normalmente provocam reflexos profundos no mercado. Empresas que não possuem uma gestão eficiente acabam tendo enormes dificuldades, quando não fecham as portas. Empresas bem administradas tomam decisões necessárias para enxugar de forma inteligente, aperfeiçoam processos, melhoram a eficiência produtiva e buscam novos mercados, resultando em um negócio muito mais competitivo, que crescerá bastante quando as dificuldades diminuírem. Outras consequências também ocorrem, algumas positivas e outras negativas. Dentre estas últimas, uma que me preocupa sobremaneira é a queda de qualidade dos produtos em geral.

Na busca por preços mais reduzidos a indústria calçadista, curtidora ou de bolsas e artefatos “aperta” seu fornecedor para baixar os preços das matérias primas. Este ajuste se faz necessário e é natural em momentos de mercado de consumo reduzido, na busca por espaços que serão inevitavelmente retirados de outro competidor. O correto, o adequado, é que os fornecedores façam esta redução a partir de ganhos de produtividade, de redução de custos internos de processos, de logística, ou na otimização da negociação de compra de seus insumos, por exemplo.

Contudo, muitas vezes, o que ocorre é uma simples troca de insumos tradicionais por outros de preço mais baixo e qualidade inferior. Como consequência, o componente ou matéria prima que chega ao fabricante de produto final pode não atender o nível de qualidade exigido pelo mercado. Os calçados e bolsas tornam-se mais e mais descartáveis e as marcas passam a ser arranhadas por esta performance sofrível. Tudo isto resulta em um nivelamento por baixo, muito prejudicial as empresas da cadeia produtiva.

No mundo que vivemos, que caminha para um consumo consciente, esta prática torna-se danosa. Todas as empresas do setor devem buscar maior competitividade sem transformar a qualidade no patinho feio. É mais ou menos fazer o que o nosso governo faz para ajustar as contas: ao invés de reduzir custos e ser mais eficiente, faz o mais fácil e menos doloroso (para ele) que é aumentar impostos.

Todas as nossas empresas são ineficientes em algum ponto, em maior ou menor escala; todas têm custos que podem e devem ser reduzidos sem comprometer a operação; sempre é possível melhorar a produtividade, mesmo que em percentuais baixos. Contudo isto requer conhecimento, firmeza, capacidade de realizar mudanças, ter ótimo controle e saber avaliar investimentos. Capacitar os profissionais e o próprio empresário em gestão da produção e empresarial, respectivamente, pode ajudar muito. Mas poucas empresas estão se dando conta disto.

Luis Coelho

Luís Coelho é consultor internacional de empresas formado em Tecnologia de Produção de Calçados e pós graduado em Educação pela Feevale, com MBA em Comércio Exterior e Negócios Internacionais pela FGV. É diretor da Coelho Consultoria Empresarial Ltda.

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