Riscos da instabilidade política

03.07.2017

Nesse mesmo espaço, em abril de 2016, tive a oportunidade de demonstrar aos leitores como uma crise de confiança, advinda de expectativas negativas dos agentes sobre o futuro, pode trazer efeitos deletérios à economia.

A questão é que quando parcela relevante da sociedade se convence de que as coisas não vão bem, e que o futuro será pouco auspicioso, esse sentimento coletivo de desconfiança faz surgir o temor da perda da renda e do emprego, com a consequente postergação do consumo, bem como conduz o empresariado a não ter estímulos a investir na ampliação da capacidade produtiva de seu negócio.

E, infelizmente, no momento em que a atividade econômica já começava a dar sinais embrionários de recuperação, uma nova crise política, disparada agora pelas denúncias que recaem sobre o Presidente, surge no horizonte de cálculo dos agentes, gerando novas incertezas e ameaçando a tímida retomada que se vislumbrava.

O fato é que a baixíssima aprovação popular do Presidente e o eventual esfacelamento da base de sustentação do executivo no Congresso Nacional limitarão a governabilidade e, por conseguinte, a capacidade de se aprovar as reformas defendidas pelo mercado (trabalhista, previdenciária e tributária).
Ademais, as apostas de se elevar a taxa de investimento brasileira, através do programa de parcerias público-privadas, em especial na área de infraestrutura, devem também sofrer um revés e novos projetos devem entrar em compasso de espera.

A indefinição sobre a continuidade ou não do governo, e do nome de quem eventualmente poderia substituir o atual Presidente, deve provocar também a reclassificação da nota de crédito soberano feita pelas agências de rating, afastando, mesmo que temporariamente, o investidor estrangeiro, cuja tendência será a de esperar o desenrolar dos novos capítulos.
Os impactos dessa crise, cujo enredo parece desafiar os mais criativos produtores hollywoodianos, fizeram-se sentir imediatamente na bolsa de valores (cujas expectativas de alta foram fortemente revertidas pelos analistas) e na taxa de câmbio (que, diante desse cenário nebuloso, tende a se estabilizar em patamar mais elevado).

Uma depreciação cambial duradoura, em um contexto de desequilíbrio das contas públicas, associada à percepção de atraso na aprovação das reformas, deverá provocar maior instabilidade de preços, desacelerando o próprio ritmo de flexibilização monetária (queda na taxa Selic) ora em curso pelo Banco Central do Brasil.

O certo é que se a superação do impasse político não se der de forma célere, o processo gradual de recuperação econômica poderá ser abortado, ou até mesmo revertido (o que levaria o país a estabelecer a marca histórica de três anos consecutivos de recessão), com todas as consequências negativas no nível de emprego e renda advindas de um ambiente dominado pela incerteza.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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