Competitividade: além de tecnologia é preciso bons profissionais

12.05.2017

Vou retomar um assunto que considero fundamental, não só para a indústria calçadista, mas para a de artefatos, para os curtumes e para qualquer outra atividade industrial: a qualificação dos técnicos e chefias. Paradoxalmente ao avanço tecnológico no mundo, percebo que as empresas do setor sofreram um empobrecimento do conhecimento técnico dos profissionais que atuam em sua área industrial. Há vinte anos atrás tínhamos mais técnicos melhor preparados do que hoje. Ao invés de termos evoluído neste quesito ao longo do tempo, fomos perdendo profissionais por diversos fatores e as empresas não os repuseram. Seja porque não encontraram no mercado, ou porque não adotaram a política de investir na qualificação destes profissionais, ou porque buscaram reduzir custos internos e preferiram profissionais mais baratos. O certo é que está cada vez mais difícil contratar gente muito qualificada.

Com o nível de competitividade que está o mercado, com a necessidade de produzir mais e melhor com menor custo, com os avanços tecnológicos que ocorrem cada dia em maior velocidade e, principalmente, com a necessidade de introduzir inovações de produto e processo, o lógico seria as empresas contarem com técnicos, engenheiros, gestores com alto grau de conhecimento e capacidade de gestão. Mas estes profissionais são raros nas indústrias e está difícil de encontrá-los disponíveis no mercado.

Há vinte anos atrás, só no Vale do Sinos, no Rio Grande do Sul, tínhamos duas modalidades de cursos técnicos e um curso de nível superior, todos voltados especificamente para o calçado. Hoje só temos um curso técnico de calçados, que luta para não ser extinto, face à pequena procura dos jovens. A extinção do curso de graduação foi um grande equívoco da universidade local, na minha opinião. E a falta de alunos interessados no curso técnico me leva a concluir que, por um lado, a imagem que o setor calçadista tem atualmente é a de um segmento econômico decadente, e por outro, falta de interesse das empresas em apoiar a formação de novos técnicos.

Precisamos urgentemente recuperar a imagem de uma indústria que produz novecentos milhões de pares ao ano, vende para mais de cento e cinquenta países e emprega mais de trezentos mil trabalhadores diretos. Muitas de nossas fábricas possuem tecnologias que não deixam nada a desejar às melhores indústrias europeias ou asiáticas. Existem inúmeras atividades profissionais nestas empresas que vão da produção à criação de produtos, passando pelo administrativo, comercial, RH e TI, só para citar alguns, muito bem remuneradas. Portanto, retomemos a autoestima do setor e voltemos a formar muitos e ótimos profissionais. O setor agradece.

Luis Coelho

Luís Coelho é consultor internacional de empresas formado em Tecnologia de Produção de Calçados e pós graduado em Educação pela Feevale, com MBA em Comércio Exterior e Negócios Internacionais pela FGV. É diretor da Coelho Consultoria Empresarial Ltda.

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