Operação Carne Fraca: balde de água fria no couro

21.03.2017 - Nicolle Frapiccini / Jornal NH

Os empresários do setor coureiro que estavam otimistas quanto ao futuro da atividade, principalmente por causa do desempenho da cadeia coureiro-calçadista na edição deste ano da Fimec – Feira Internacional de Couros, Produtos Químicos, Componentes, Máquinas e Equipamentos para Calçados e Curtumes, que ocorreu na semana passada e foi considerada por muitos empresários uma das melhores edições da mostra, agora estão preocupados com os desdobramentos da Operação Carne Fraca, deflagrada na manhã da última sexta-feira pela Polícia Federal (PF). Menos de 24 horas depois do término da feira, as projeções otimistas se transformaram em grandes dúvidas. “Saímos com um espírito muito bom da feira e recebemos um balde de água fria. Imagina com que bagagem o nosso setor está indo para a China, que a partir do próximo dia 30 sedia a APLF Leather, em Hong Kong. Estamos com uma interrogação do tamanho do Brasil na cabeça”, afirma o presidente-executivo da Associação das Indústrias de Curtume do Rio Grande do Sul (AICSul), Moacir Berger de Souza. 
Foto: Divulgação Moacir Berger
Moacir Berger

Para o executivo, a preocupação é evidente. “Acontecendo qualquer embargo à carne brasileira – como está se desenhando – isso se traduz, imediatamente em um decréscimo de abate, ou seja, teremos menos matéria-prima disponível”, disse, acrescentando que o momento é de muita apreensão, não só para os curtumes, como também para a economia brasileira. A feira chinesa será a primeira do setor após a operação. “Nesta feira, em que, normalmente, se vende a produção do semestre, vamos poder ver como os curtumes e os outros mercados vão se portar. Não sabemos como vamos vender e se teremos couro para as vendas, já que, se pararem os embarques de carne, o abate também cessará”, frisa Berger.

DESDOBRAMENTOS

Com a convicção de que ainda é muito cedo para precisar os desdobramentos do episódio, o presidente-executivo da AICSul diz que é preciso calma. “Temos agora que aguardar a conclusão das investigações e as próximas etapas. De qualquer maneira, a nossa imagem já está prejudicada e precisamos minimizar o prejuízo. É um fato muito grave para a economia do País se jogar todo o setor produtor de proteína animal na clandestinidade”, fala Berger, ao acreditar que esse é um fato isolado. “Ainda tenho confiança na estrutura sanitária brasileira.”

Reflexo indesejado para o segmento

Para Berger, um dos desdobramentos que o setor coureiro pode sentir nos próximos meses é o aumento do preço da matéria-prima. “Os reflexos ainda não conseguimos medir, mas esse é o mais indesejado que podemos ter. Se hoje já temos preços mais elevados porque a nossa capacidade instalada é maior que a produção atual, os preços vão ficar ainda maiores em relação à média, já que a demanda será maior que a oferta”, observa o presidente-executivo da AICSul.

ENTENDA O CASO

Na manhã da última sexta-feira, dia 17, a PF deflagrou a Operação Carne Fraca, denunciando um esquema em que acusa frigoríficos brasileiros de maquiar carnes vencidas com ácido ascórbico e reembalá-las para conseguir vendê-las. Ao todo, 21 estabelecimentos foram investigados e alguns suspensos.

No domingo, dia 19, o Brasil sofreu medidas comerciais por causa do escândalo: China e Chile fecharam seus mercados, e a União Europeia (UE) impôs restrições. 

Além disso, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, anunciou a suspensão de exportação de produtos dos estabelecimentos investigados. As vendas dentro do Brasil estão liberadas. O País é o maior exportador mundial de carne, e a China seu segundo cliente de carne de boi e de frango.

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