Para o executivo, a preocupação é evidente. “Acontecendo qualquer embargo à carne brasileira – como está se desenhando – isso se traduz, imediatamente em um decréscimo de abate, ou seja, teremos menos matéria-prima disponível”, disse, acrescentando que o momento é de muita apreensão, não só para os curtumes, como também para a economia brasileira. A feira chinesa será a primeira do setor após a operação. “Nesta feira, em que, normalmente, se vende a produção do semestre, vamos poder ver como os curtumes e os outros mercados vão se portar. Não sabemos como vamos vender e se teremos couro para as vendas, já que, se pararem os embarques de carne, o abate também cessará”, frisa Berger.
DESDOBRAMENTOS
Com a convicção de que ainda é muito cedo para precisar os desdobramentos do episódio, o presidente-executivo da AICSul diz que é preciso calma. “Temos agora que aguardar a conclusão das investigações e as próximas etapas. De qualquer maneira, a nossa imagem já está prejudicada e precisamos minimizar o prejuízo. É um fato muito grave para a economia do País se jogar todo o setor produtor de proteína animal na clandestinidade”, fala Berger, ao acreditar que esse é um fato isolado. “Ainda tenho confiança na estrutura sanitária brasileira.”
Reflexo indesejado para o segmento
Para Berger, um dos desdobramentos que o setor coureiro pode sentir nos próximos meses é o aumento do preço da matéria-prima. “Os reflexos ainda não conseguimos medir, mas esse é o mais indesejado que podemos ter. Se hoje já temos preços mais elevados porque a nossa capacidade instalada é maior que a produção atual, os preços vão ficar ainda maiores em relação à média, já que a demanda será maior que a oferta”, observa o presidente-executivo da AICSul.
ENTENDA O CASO
Na manhã da última sexta-feira, dia 17, a PF deflagrou a Operação Carne Fraca, denunciando um esquema em que acusa frigoríficos brasileiros de maquiar carnes vencidas com ácido ascórbico e reembalá-las para conseguir vendê-las. Ao todo, 21 estabelecimentos foram investigados e alguns suspensos.
No domingo, dia 19, o Brasil sofreu medidas comerciais por causa do escândalo: China e Chile fecharam seus mercados, e a União Europeia (UE) impôs restrições.
Além disso, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, anunciou a suspensão de exportação de produtos dos estabelecimentos investigados. As vendas dentro do Brasil estão liberadas. O País é o maior exportador mundial de carne, e a China seu segundo cliente de carne de boi e de frango.