O que esperar do governo Trump?

13.02.2017
Em novembro último, o mundo foi surpreendido pela vitória do candidato do partido republicano, Donald Trump, na eleição presidencial americana.
Sua vitória deve ser encarada como resultado do descontentamento dos eleitores, em especial os da classe média, com os rumos da economia após a crise de 2008, bem como pela insatisfação com a classe política tradicional, o que possibilita que outsiders, isto é, pessoas que não possuem carreira política pregressa, apresentem-se como alternativas ao establishment, com um discurso nacionalista, populista e, por vezes, misógino e xenofóbico.
Porém, o que esperar do governo Trump? O quanto do discurso de campanha poderá ser efetivamente implantado? E na economia, o que podemos projetar? Quais os possíveis reflexos ao Brasil?
Há grande expectativa de que a promessa de campanha de acelerar o crescimento econômico americano, por meio de uma política fiscal expansionista, seja efetivamente cumprida.
Tal política combinaria uma redução de impostos, tanto para as famílias como para as empresas, o que, por si só, poderia resultar, segundo estudo realizado pelo Credit Suisse, em um crescimento econômico de 2%, caso haja uma queda de 10% na alíquota média de impostos.
Ainda pelo lado fiscal, se a proposta de ampliação e revitalização da infraestrutura americana, estimada em 550 bilhões de dólares, for efetivamente concretizada, poderá se converter em estímulo à economia mundial e sustentar um ciclo de expansão de preços de commodities, o que beneficiará o Brasil.
A preocupação, porém, reside no fato de que tal política, com o passar do tempo, venha a deteriorar a saúde das contas públicas e pressionar a inflação, obrigando o FED (o Banco Central americano) a ter que elevar a taxa básica de juros, com possíveis reflexos no fluxo de capitais destinados a mercados emergentes (como o Brasil) e, por conseguinte, em suas taxas de câmbio.
Ademais, outro aspecto crucial a ser destacado, e que poderá trazer consequências à economia brasileira, será a política comercial do novo governo americano.
As promessas de renegociar acordos firmados no âmbito do NAFTA (o bloco de livre comércio formado por EUA, Canadá e México), e de retirar os EUA do Acordo Transpacífico (tratado de livre comércio que congrega países que detém 40% do PIB mundial), podem, eventualmente, favorecer o Brasil, caso alguns dos seus tradicionais fornecedores venham a ser substituídos por pares brasileiros.
Todavia, o mais provável é que tal postura, somada ao discurso de Trump contra as importações de produtos chineses, venha a exacerbar o protecionismo entre os países, com reflexos negativos às exportações brasileiras.
O certo é que para além das dificuldades a serem enfrentadas em âmbito doméstico, o efeito Donald Trump adicionará mais um elemento de incerteza à economia brasileira em 2017.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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