2017: mais um ano desafiador

09.02.2017
O ano de 2016 não deixará saudades. Foram vários os acontecimentos que direta ou indiretamente afligiram a indústria, o comércio e os trabalhadores: impeachment, crise fiscal, inflação acima da meta, queda da renda e do consumo, desemprego em alta, investimentos postergados, e mais um ano de PIB negativo.
A esse quadro ainda podemos associar questões externas relevantes: desaceleração da economia chinesa, Brexit, resultado das eleições americanas, entre outros.
Com exceção de um pequeno grupo que se beneficiou da elevada taxa de juros e da recuperação do preço de alguns papéis negociados na bolsa de valores, a maior parte dos brasileiros tem motivos de sobra para não guardar boas recordações de 2016.
O fato é que muitos trabalhadores se veem hoje sem emprego ou subocupados, auferindo renda menor e sem contar com a rede de proteção que a formalidade proporciona.
Os que conseguiram manter seus empregos, também não escaparam do encolhimento de sua renda real, basta observar o número de categorias profissionais que, em suas respectivas data-base, não conseguiram sequer obter reposição integral da inflação.
Da mesma forma, empresários, sejam da indústria ou do comércio, viram suas vendas minguarem e a rentabilidade de seus negócios cair significativamente nesses últimos 12 meses.
Mas, como diz o velho dito popular, passado é passado e a ele não nos é permitido alterar. Cabe agora olhar para frente e se perguntar: E 2017? Como será? O que a economia nos reserva para o novo ano?
Infelizmente, a partir dos dados até aqui disponíveis, bem como pelas tendências que deles podem ser abstraídas, são exíguas as chances de que venhamos a ter uma rápida e contundente transformação do quadro acima exposto.
Faltam, nesse momento, forças que coloquem a economia no caminho de uma robusta e sustentável recuperação. O consumo está fraco, as exportações em declínio, governos subnacionais em sérias dificuldades financeiras, e o investimento privado em compasso de espera.
As taxas de juros começam a cair, porém de forma mais tímida do que o momento preconiza.
O desemprego continua em elevação, e assim se manterá, ao menos durante o primeiro semestre de 2017.
A atividade econômica deverá flertar, se não com nova queda, com a estagnação.
No cenário internacional, a ascensão de políticos da chamada ultradireita na Europa, e os possíveis reflexos ao Brasil da chegada de Donald Trump à presidência dos EUA, demandarão atenção.
Nesse último caso, a depender da trajetória dos juros americanos e da política comercial do novo governo, poderemos assistir a movimentos mais bruscos e voláteis da taxa de câmbio e a exacerbação das rivalidades nacionais com o crescimento de um maior protecionismo entre os países o que, claro, poderá trazer reflexos às exportações brasileiras.
Em suma, pelo que podemos vislumbrar até aqui, 2017 será mais um ano complexo e desafiador.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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