Adeus, GDS!

10.02.2017
É difícil e inacreditável, que a derradeira GDS ocorreu nesta semana (foi de 7 a 9 de fevereiro de 2017) em Düsseldorf, Alemanha, depois de mais de 60 anos de existência, e de ter sido a mostra mais importante no cenário calçadista, de todo o mundo, e por muito tempo. Foi a feira que muitíssimas pessoas da nossa região visitaram, e que foi, sem dúvida, um modelo a ser imitado. Era enorme, com cerca de oito pavilhões de exposições, e 306 mil metros quadrados, plenamente tomados. O mundo se encontrava ali.
Por muitos anos, também o Brasil se fez presente nessa feira, e muitos negócios foram concretizados. A organização da feira foi sempre impecável, tanto para os visitantes, como para expositores. O estacionamento era num parque interno cheio de árvores, onde passavam ônibus circulares específicos (grátis), a cada cinco minutos, e que podiam escolher qual a entrada da feira que queriam parar: Norte, Sul, Leste ou Oeste.
Havia grandes restaurantes, mas também muitos bares e os “Wurst-mit-Broedchen”, de maneira que ninguém precisava se deslocar muito longe. E os toilettes, sempre logo ali, tantos, e tão limpos! A cidade toda estava preparada para a feira, com uma excelente rede hoteleira, para todos os bolsos, metrô para tudo que é lado, grátis para quem apresentava o ingresso na feira, restaurantes de todos os tipos de comida! E que bier! Quem não vai se lembrar com saudade do “Zum Schifchen”, com seu joelho de porco, e a bier deles mesmo, numa tradição de mais de cem anos? Durante a GDS, ali se falava português-brasileiro, tamanha quantidade de brasileiros! A Alt-Stadt era uma festa só! E no final da noite todos acabavam se encontrando na esquina do “Killepitsch”.
Mas as coisas mudam, e a GDS foi diminuindo devagarinho. O maior baque, sentido por nós mesmos como expositores, foi a feira de 2001, poucos dias depois dos atentados de 11 de setembro. E, desde então, as visitas dos americanos e canadenses nunca mais foram as mesmas. Com o fortalecimento das feiras concorrentes, como a theMicam, na Itália, a GDS passou a ser cada vez mais europeia para a Europa, e menos internacional para o mundo.
As construções dos estandes eram muito desparelhas, ou seja, havia megaestandes das grandes organizações, e elas são muitas na Alemanha. Os pequenos expositores destoavam deste contexto. Isso não acontece em outras feiras como a Garda e a theMicam.
Quando eles caem, caem de pé!
Mas os alemães, quando caem, caem de pé. Mesmo sendo a última feira, ainda tiveram cerca de 2,5 pavilhões ocupados, com shows, desfiles, seminários, onde o sentimento de uns era de tristeza e de outros, alívio, por não precisarem mais fazer uma feira, sem visitantes suficientes ou não adequados.
Para o diretor de exportação da Lloyd, Mr. Diethard Rudolph, a feira foi ótima, com um número inesperado de visitas internacionais. A companhia lamentava-se sobremaneira por ficar desassistida sem a GDS. “Onde vamos agora? Todos em Milão? Isso não será bom”, opinou. Ele também não se conforma que o setor não tenha conseguido uma união para fortalecer a feira internacionalmente. “Se preocuparam demais cada um com seu próprio problema, e com o mercado alemão, e esqueceram-se do mundo”.
Para o representante comercial da Manz-Fortuna, Thomas-Prochazka, esta edição da mostra foi inesperadamente boa e puderam tirar muitos pedidos, o que já fazia tempo que não acontecia. Igualmente os clientes reclamaram para onde terão de ir.
Para Claudia Scultz, trends expert do Deutschen Schuhinstitut, apesar da feira ter tido boa e proveitosa visitação, o pano de fundo foi de tristeza. “Os setores que mais lamentam sobre onde expor são os do conforto e dos infantis”, comentou.
A Igedo Company está assumindo a GDS e anunciou que em agosto de 2017, de 27 a 29, haverá uma nova feira, com o nome Schuh Gallery, na Areal Böhlerem, em Düsseldorf, cujos formatos ainda estão em estudo. Mas algumas coisas já estão certas: será um feira destinada ao preço médio e alto; principalmente de produtores europeus; não será uma feira de sourcings, motivo pelo qual “aspiraram” (para usar o termo usado pela própria Igedo na abertura da última GDS) 65% dos expositores.
E assim caminha a humanidade! Quem mais vive, mais vê. E quando acha que sabe bastante, morre!

Edela Land

Edela Land é profissional da área de comércio internacional, executiva da empresa alemã Landed Services (www.landed-services.com).
Contatos: edela@landed-services.de

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