E o que prevíamos começou a se realizar

09.12.2016
Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe! Este ditado popular se aplica perfeitamente à concorrência que a China nos impôs nos últimos 25 anos. Depois de termos exportado quase 200 milhões de pares em 1993 – nosso melhor ano em toda a história calçadista brasileira –, só acumulamos queda nos volumes exportados nos anos seguintes. Conseguimos estabilizar nos 120/130 milhões de pares nos últimos quatro anos, mas nossa participação no mercado norte-americano, que já chegou a representar 12% das importações de calçados daquele país, hoje não passa de 2%.
Contudo, a China finalmente começa a dar mostras de que o dito popular é verdadeiro. Depois de mais de 30 anos só acumulando índices positivos de crescimento da produção e da exportação, o ano de 2016 deve fechar com uma queda significativa das exportações chinesas de calçados.
Segundo a World Footwear News, neste primeiro semestre a queda foi de 12% em valor e 5,7% em volume. Considerando que a China exportou quase 10 bilhões de pares no ano passado, a manter este índice, deixarão de chegar aos mercadores consumidores mundiais perto de 570 milhões de pares de calçados chineses no corrente ano. Isso representa quatro anos e meio de exportação brasileira.
Esta queda já era prevista por mim e por todos aqueles que vinham acompanhando o cenário daquele país. A elevação dos custos de produção, provocada entre outros fatores pela inflação da mão de obra, que vem migrando para outros segmentos econômicos, a pressão do governo chinês que necessita urgentemente combater a poluição do solo e das águas – que atingiu níveis insuportáveis e que tem fechado milhares de indústrias poluidoras nos últimos anos –, a escassez de água e o aumento dos preços da energia são alguns fatores que vêm dificultando sobremaneira a vida do empresariado local, fazendo com que muitas empresas fechassem as portas ou migrassem para outros países.
Herança
É certo que uma parte deste calçado será exportada pelo Vietnã e outros países asiáticos, que o mercado mundial está recessivo e por isso comprando menos, mas também é verdade que o Brasil é forte candidato a herdar uma pequena parte que seja deste volume astronômico que escapou das mãos dos chineses. Temos experiência, tecnologia, parque fabril e qualidade. Nossas fábricas têm de apenas se reestruturar para o perfil de negócios com private label.
Esta desaceleração não fará com que a China deixe de ser o gigante exportador que vem sendo há mais de três décadas. Mesmo com esta queda significativa, a China ainda exporta 65% de todo o calçado comercializado no mundo. Mas, com certeza, cada pequena redução nas vendas externas chinesas representam uma fantástica oportunidade para os demais produtores mundiais.

Luis Coelho

Luís Coelho é consultor internacional de empresas formado em Tecnologia de Produção de Calçados e pós graduado em Educação pela Feevale, com MBA em Comércio Exterior e Negócios Internacionais pela FGV. É diretor da Coelho Consultoria Empresarial Ltda.

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