Prenúncio de uma lenta recuperação

14.11.2016
Uma análise sobre os indicadores de desempenho da indústria, do comércio varejista e dos serviços, nos primeiros meses do ano, realizada pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), sugere que o pior momento da crise econômica brasileira foi superado. A indústria começa a ensaiar um processo de recuperação, o comércio varejista flerta com a estabilidade, e o setor de serviços, apesar de ainda registrar números negativos, já apresenta sinais de desaceleração da queda.
A evolução da produção industrial, ao longo dos primeiros sete meses de 2016, acumulou alta de 1,6% quando comparado com o final de 2015. Apesar de tal nível de crescimento ainda estar muito aquém do necessário para compensar as perdas acumuladas ao longo dos últimos anos, é certo que tal resultado se mostra alentador.
No caso do comércio varejista, os números ainda não revelam em si uma retomada da trajetória de crescimento, porém prenunciam que o fundo do poço parece ter sido alcançado. Um exemplo nesse sentido são os segmentos ligados ao comércio de alimentos e bebidas, aqueles com maior peso no setor varejista, que já apresentam indícios de estabilidade, com interrupção na trajetória de queda.
O setor de serviços é, porém, ainda o setor que apresenta taxa acumulada negativa de crescimento ao longo do ano. Contudo, tal queda já é menor do que aquela registrada em igual período do ano anterior, revelando uma trajetória de moderação da crise, rumo a uma lenta reversão.
Um olhar mais detido sobre a tendência apresentada pelos números dos três setores em conjunto, sugere também que o atual retrato econômico brasileiro se assemelha ao descrito na teoria econômica como um ciclo do tipo U, isto é, aquele que, como revelado pelo formato da própria letra, após uma intensa queda do nível de atividade, preserva um período de prostração econômica para só depois experimentar uma retomada econômica mais vigorosa.

Resilientes

O fato é que apesar da indústria revelar sinais embrionários de retomada, o comércio e o setor e serviços, que juntos representam mais de 60% do PIB, mostram-se ainda resilientes, devido tanto aos efeitos deletérios da inflação elevada (e a consequente queda do poder de compra dos trabalhadores), como pelas maiores taxas de desocupação da mão de obra, cuja reversão tenderá, como discutido em nossa última coluna, a ocorrer de forma letárgica.
Ademais, o cenário econômico internacional ainda incerto; a instabilidade política remanescente, mesmo após o processo de impeachment; e a conscientização de certos segmentos da sociedade sobre as dificuldades (maiores do que esperadas inicialmente) em se aprovar com celeridade medidas impopulares de ajuste fiscal; corroboram a tese de que a recuperação econômica se dará de forma mais lenta e desalentadora do que aquela outrora imaginada por alguns e, claro, daquela desejada por todos.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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