Declínio em Franca, expansão no Ceará (parte 2)

14.11.2016
Na busca de elevação dos índices de produtividade, Ceará e Bahia têm disponibilizado recursos, via BNDES e de outros órgãos, para atraírem também empresas que atuam na cadeia produtiva, caso de curtumes, indústrias de máquinas e equipamentos, fornecedores, enfim, de insumos e componentes. A ideia dessa concentração produtiva está na raiz de um projeto maior, de colocar aqueles dois centros calçadistas na linha de frente, em nível nacional, tanto em evolução tecnológica, quanto no grau de competitividade, com vistas ao mercado externo, e, por consequência, ao mercado doméstico.
Importante destacar, além do mais, que essa planificação contempla o apoio logístico na alçada da cadeia produtiva, visando a redução, o quanto possível, do ônus representado pela aquisição de matérias-primas e componentes procedentes do Sul e do Sudeste.
Todo esse círculo virtuoso tem sido ativado mediante um conjunto de favorecimentos fiscais da parte de órgãos dos governos estadual e federal. Conta, ademais, com valioso apoio da Sudene, pois esse esforço de expansão está inserido na meta nacional de atender efetivamente as regiões ainda menos desenvolvidas do País. O que, no caso presente, é perfeitamente viável, tendo em vista que a atividade calçadista, a par da forte contribuição para a expansão econômica, é fator de extraordinária relevância na geração de empregos, com influência direta e imediata nos indicadores do bem-estar social.
Em contrapartida, em Franca, a par da luta carente de bons resultados pela manutenção da atividade calçadista, novos obstáculos não faltam, para se somarem aos transtornos desestabilizadores. Como agora as equivocadas posições contra o necessário processo de terceirização adotadas veementemente pelo corporativismo sindical radicado na cidade. Mesmo diante da evidência de que tal comportamento pode agravar mais ainda a complicada situação da indústria calçadista francana, tornando-a cada vez menos competitiva, em termos de mercado interno e externo. E com reflexos diretos na escalada do desemprego.
Por outro lado, em demonstração de autoridade, determinação e racionalidade, cearenses e baianos estão encontrando até mesmo formas de atenuar os efeitos danosos do chamado Custo Brasil. Porém em Franca, tal reivindicação nem campo teve para prosperar. Tanto que não se conhece qualquer medida concreta por parte do Governo do Estado, no sentido de promover tentativas como as que estão vitoriosamente em curso no Nordeste. Por essas e outras, para lá desse descaso de que são vítimas, assistiria razão aos fabricantes da cidade se fizessem ecoar, em manifestos destemidos, movimentos reivindicatórios contra tudo isso que parece assumir contornos de verdadeira conspiração contra o outrora avançado eixo calçadista do País.
E a menos que haja uma reação ainda não devidamente cogitada, vitaminada por uma inequívoca expressão de dignidade, de bravura e de consciência do próprio valor, a Franca dos calçados continuará percorrendo, inexoravelmente, a senda da retração e candidatando-se a integrar, infelizmente e não vai demorar muito, o rol dos decadentes complexos calçadistas espalhados por este mundo afora.

Luís Carlos Facury

Luís Carlos Facury é economista e professor universitário (Economia Internacional), jornalista e calçadista.

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