RS: foco na QUALIDADE, não mais na QUANTIDADE

30.08.2016 - Bárbara Bengua / Jornal Exclusivo
Não há dados oficiais, mas basta um passeio pelas ruas de Novo Hamburgo para constatar que as grandes indústrias, abarrotadas de esteiras, com milhares de funcionários, quase não existem mais. A Capital Nacional do Calçado deixou de ostentar este título pela quantidade de pares diretamente produzidos na cidade, mas nem por isso perdeu a importância no cenário nacional e internacional. Principal fator que provocou este rearranjo produtivo, a China obrigou a indústria gaúcha a mudar as características do produto que fabricava. Os pedidos em larga escala que abasteciam especialmente o mercado norte-americano foram escasseando e novos clientes precisaram ser conquistados. Economista e professora de Administração da Universidade Feevale (Novo Hamburgo/RS), Lisiane Fonseca da Silva destaca o esforço dos calçadistas de toda região para sobreviver. “Foi necessário pensar em novos produtos e fazer um reposicionamento de marca. Não perdemos força porque o know-how permanece aqui no Vale. A tradição de polo calçadista fez com que o Estado tivesse a expertise no desenvolvimento do produto: design, escolha de materiais etc”, detalha.
Pesquisador da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Tomás Amaral Torezani acrescenta que, por mais que a China tenha inundado o mundo com produtos de baixo valor agregado, o Rio Grande do Sul, em contrapartida, buscou especializar-se em mercados de luxo. “O setor aperfeiçoou aspectos como o design, incorporando marca e melhorando todo o processo produtivo”, opina ele, ressaltando que, mesmo com a mudança, o Estado segue dominando as exportações no País (ver quadro).
Torezani enfatiza que o preço médio do produto exportado do Rio Grande do Sul é muito superior à média nacional. “Entre os anos de 2003 e 2015, a média do Brasil foi de 10 dólares o par. No mesmo período, a média do Estado foi cerca de 19 dólares o par”, compara.
NOVOS NEGÓCIOS
Por mais que crises tenham atrapalhado o desenvolvimento do País, o setor calçadista do Rio Grande do Sul mostra que tem capacidade para se reinventar. Em 2015, só Novo Hamburgo teve 1.715 novas empresas abertas relacionadas ao segmento – seja em serviço, comércio, indústria ou MEIs (Micro Empreendedor Individual), segundo dados da Prefeitura local. Neste ano, a cidade está entre as 17 que mais empregaram, de acordo com dados do Cadastro-Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Previdência Social. “Podemos dizer que as gigantes da indústria talvez não estejam aqui, pois o perfil de companhias calçadistas no Estado é de micro, pequena e médias empresas. Mas isso só reforça a identidade de que valor, design e tecnologia são nossos diferenciais. O nosso foco talvez não seja quantidade e, sim, qualidade”, finaliza o pesquisador da FEE.

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