Conhecimento e experiência que se foram...

12.08.2016
Tenho comentado em colunas escritas anteriormente sobre o fato de que as empresas da cadeia coureiro-calçadista apresentam deficiências de conhecimento técnico nas suas equipes atuais. Posso afirmar que alguns anos atrás as indústrias tinham um número bem maior de profissionais qualificados, desenvolvendo produtos, avaliando a qualidade, supervisionando a produção e, até mesmo, atuando na comercialização. Muitos destes profissionais aposentaram-se, mas muitos foram buscar outros mercados, ou foram requisitados por suas empresas ou por empresas internacionais para atuarem em outros países. Aqui ao lado mesmo, na Argentina, existe um grande número de técnicos que estão atuando em indústrias brasileiras lá instaladas, ou ainda, em empresas daquele país que sabem do valor dos profissionais brasileiros. O México é outra nação que acolheu um grande número de sapateiros e curtidores daqui, talvez muito mais que o país vizinho. Poderíamos percorrer toda a América Latina e encontraríamos profissionais, principalmente gaúchos, vivendo e trabalhando em empresas da cadeia do calçado.
Hoje, com a disseminação das redes sociais, acabamos voluntária e involuntariamente descobrindo que muito mais gente do setor está espalhada pelo mundo. Seja no Facebook, Instagram, LinkedIn e outras redes, ficamos sabendo de técnicos brasileiros trabalhando na China, Vietnã, Austrália, Índia, Etiópia e Indonésia, apenas para citar meia dúzia de países que os acolheram. Contudo, este número é muito maior. Onde existe um conglomerado calçadista, com uma cadeia mais ou menos estruturada, com certeza há um ou mais brasileiros desenvolvendo sua atividade.
Rumo à China
A China, acredito, é o país que recebeu mais deles. Desde o início da década de 1990, quando a indústria chinesa cresceu a índices astronômicos, a migração passou a ocorrer de forma crescente, atingindo seu ápice no início deste século. Imagino serem centenas de profissionais, principalmente do Vale do Sinos, vivendo com suas famílias no sudeste deste país. Muitos casaram com chineses e hoje têm filhos com os olhinhos puxados, totalmente integrados à cultura local e, provavelmente, estabelecidos para o resto das suas vidas. Outros economizam para um dia voltar e ter uma aposentadoria confortável no lugar onde nasceram.
Conhecimento e experiência que se foram, muito consequência da falta de oportunidade e das estratégias de redução de custos das empresas brasileiras, em busca da competitividade em um País que vem se nivelando por baixo há muitos anos. Temos de recuperar o nível de qualidade que possuíamos anos atrás, não só no calçado, mas em todos os aspectos da nossa vida, como educação, saúde e segurança, só para citar os principais, e então avançarmos. O Brasil merece muito, muito mais.

Luis Coelho

Luís Coelho é consultor internacional de empresas formado em Tecnologia de Produção de Calçados e pós graduado em Educação pela Feevale, com MBA em Comércio Exterior e Negócios Internacionais pela FGV. É diretor da Coelho Consultoria Empresarial Ltda.

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