Os pontos de estrangulamento - parte 1

29.08.2016
A indústria calçadista brasileira, de modo geral, espera definições que devem ocorrer ainda este mês em Brasília para, a partir de então, implantar as reformas de base já propostas, necessárias e imprescindíveis para a reorganização da economia e a retomada do crescimento.
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Com efeito, os empresários do setor têm plena consciência de que, em se tratando de uma atividade caracterizada pela ocupação intensiva de mão de obra, pela alta competitividade de seu produto e pela importância da comercialização externa, não há como planejar em termos de investimentos, produção, níveis de produtividade e consolidação de mercados se o governo não for capaz de superar os conhecidos pontos de estrangulamento que atrapalham o desenvolvimento do País.
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É neste sentido que direciono meus comentários, tendo em vista assuntos mais sensíveis à atividade calçadista, como a regulamentação do processo de terceirização no âmbito da cadeia produtiva; a adoção de uma política cambial mais realista, em níveis de controle, estabilidade e competitividade a médio e longo prazos, e também o pleito de tornar o Custo Brasil compatível com os modelos adotados por países que vêm crescendo em importância no mercado das trocas internacionais. 
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Empregos em Franca
A esta altura cabe, antes, abrir espaço para trazer à tona um aspecto relevante das dificuldades vividas por um dos mais tradicionais e importantes polos de calçados masculinos do Brasil, que é o de Franca/SP. Importante ressaltar o trabalho bem orientado do Sindicato da Indústria de Calçados de Franca, alçado na condição de porta-voz dos interesses da indústria local, cujos préstimos podem ser compartilhados com outros centros congêneres do País. E sua sintonia com o Caged – órgão do Ministério do Trabalho que acompanha e registra as admissões e dispensas de empregados – permite informações atualizadas sobre a indústria de Franca, como a que segue. O número de trabalhadores nas fábricas da cidade, de acordo com dados fechados em junho, chega a exatos 22.518, correspondendo ao menor já registrado nesse mês nos últimos 13 anos. Em 2013, foi anotado o recorde de 30.381 empregados legalizados. “Desde então, assistimos à dilapidação da nossa produção, com os postos de trabalho sendo inexoravelmente eliminados, comprometendo também a pujança do parque industrial de Franca”, lamenta o presidente do sindicato, José Carlos Brigagão do Couto.
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Mesmo assim, explica o dirigente, o mês de junho representou uma elevação de 60 admissões em relação a maio (que demitiu 67), enquanto os prognósticos chegam a indicar que se possa fechar o ano – num cenário otimista – com 23,8 mil empregados, ou seja, o equivalente ao ano passado. “Pode ser que isso represente, ao menos, uma interrupção no processo de queda”, supõe o líder do sindicato patronal, mas logo desperta para um problema intrigante: “Todavia, enquanto não for decidida a permanência de Michel Temer e a consequente execução das reformas pendentes, não há possibilidades de prognóstico a longo prazo, até porque não se conhece ao certo o compromisso do Congresso Nacional: se é com o País ou com os interesses pessoais e/ou corporativos”, completa.
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Próximo artigo
Em meu próximo artigo, tratarei com mais ênfase de duas questões nevrálgicas e de crucial importância para a almejada modernização da economia e crescimento sustentado: a regulamentação do processo de terceirização e a proposta de um câmbio realista, administrado mais de conformidade com a realidade do mercado globalizado e menos como âncora para segurar a inflação, como parece ser a preocupação atual.

Luís Carlos Facury

Luís Carlos Facury é economista e professor universitário (Economia Internacional), jornalista e calçadista.

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