Conseguiremos exportar como antes?

28.06.2016
Brasil já foi um dos maiores exportadores de calçados. Na década de 1980, não havia fábricas suficientes para produzir todo o calçado que os grandes mercados demandavam, em especial, os Estados Unidos. Nos principais polos da época, Vale do Sinos e Franca, qualquer indústria de calçados que tivesse interesse podia fabricá-los para as tradings existentes, que representavam grandes cadeias de lojas nos Estados Unidos e Europa.
Na década seguinte, mais precisamente em 1993, batemos o nosso recorde, exportando 200 milhões de pares. A partir daí, com a ascensão da China e dos demais países asiáticos na industrialização de calçados, perdemos muita competitividade em função dos preços praticados no outro lado do mundo, cujas causas são de conhecimento geral.
Hoje, passados mais de 20 anos, nosso volume de exportação é bem abaixo dos volumes do início dos anos 1990, mas evoluímos em relação ao fato de termos conquistado muito mais mercados, com as nossas próprias marcas. Isto é importante, mas considerando que nosso parque industrial tem um potencial bem maior de produção do que a demanda existente, é necessário ampliar ainda mais o mercado e ser mais agressivo nas estratégias comerciais.
Outra saída, que se torna bastante interessante, é a de retomar as exportações para marcas internacionais. Com o câmbio favorável, depois de anos sem que os custos fossem viáveis, as indústrias nacionais estão conseguindo recuperar a competitividade necessária para produzir novamente através das tradings.
Qualificação
Contudo, estamos nos deparando com um problema que está dificultando muito esta retomada: a falta de indústrias que tenham qualificação para produzir outra vez neste modelo. Ou seja, a massa crítica de profissionais que aprenderam a trabalhar de forma rápida e altamente profissional reduziu-se muito nas empresas, principalmente nas de médio e pequeno porte. A qualidade dos produtos fabricados no mercado interno não está atendendo aos parâmetros de qualidade exigidos neste tipo de exportação.
Nossas indústrias terão de reaprender a produzir calçados dentro de conceitos que se dissiparam ao longo do tempo. Aprendemos muito com as exportações no passado, mas muito deste aprendizado se perdeu com a aposentadoria de muitos profissionais, com a migração de técnicos para outros países produtores e, também, com a cultura que se estabeleceu no mercado nacional, onde o design e o preço de venda são os aspectos mais trabalhados, em detrimento da qualidade dos materiais.
Os empresários que enxergarem neste novo velho modelo de negócio uma oportunidade de aumentar o nível de utilização da capacidade instalada e, ao mesmo tempo, retomar práticas e técnicas produtivas que elevarão os padrões internos de produção, poderão ter excelentes resultados, inclusive no médio e longo prazo.

Luis Coelho

Luís Coelho é consultor internacional de empresas formado em Tecnologia de Produção de Calçados e pós graduado em Educação pela Feevale, com MBA em Comércio Exterior e Negócios Internacionais pela FGV. É diretor da Coelho Consultoria Empresarial Ltda.

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